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Salmos Precatórios

Jesus ordenou que amássemos nossos inimigos, que orássemos por eles e que sempre os abençoássemos. Ele nos orientou para uma postura não só de passividade, mas também de benignidade com aqueles que buscassem o nosso mal. Essa mesma postura vamos encontrar nos escritos dos apóstolos. Apesar de ser uma atitude difícil que nem sempre conseguimos praticar, quando amamos ao Senhor desejamos obedecê-lo e cremos que suas palavras, estas são autoridade definitiva para nós.

            Em meio a isso, aceitando o Antigo Testamento como sendo Palavra de Deus igualmente inspirada, vamos nos deparar com os chamados Salmos Imprecatórios, ou seja, orações que invocam a ira divina sobre os nossos inimigos. Esse paradoxo trás em nós sentimentos controversos: “Ora pela punição ou pelo bem dos meus inimigos”.

            Entre os salmos imprecatórios podemos citar os salmos 35, 59, 69 e 109 entre outros. Também alguns trechos de alguns salmos de outras naturezas possuem momentos imprecatórios.

            Paradoxos como este são sempre um desafio para nós. Tentamos conciliar intelectualmente aquilo que é aparentemente contraditório. Devemos lembrar que a vida é complexa, com momentos e situações distintos e harmonizar interiormente essas questões são sempre um desafio. No entanto, alguns pensamentos podem nos ajudar.

            Esses são alguns pontos para lidarmos com esses chamados Salmos Imprecatórios:

  1. A luz maior que vem através de Jesus e do Novo Testamento. Se admitirmos uma revelação progressiva, mesmo em termos morais, então buscaremos nossos padrões no Novo Testamento, mais do que no Antigo Testamento. Isso não significa rejeitar completamente aquilo que foi dito, pois também foi para o nosso ensino (Romanos 15.4). No entanto, há um padrão superior agora.

2) É importante ver o contexto. Muitas vezes a honra de Deus estava em questão e a punição dos ímpios estava relacionada com aquilo que resultaria da punição dos ímpios. Uma coisa é uma afronta a nós, outra coisa é uma afronta a Deus. Não podemos esquecer que Israel acima de tudo era uma teocracia, onde Deus tinha o papel central.

3) É importante notar que na grande maioria das vezes o salmo imprecatório pedia que o próprio Deus produzisse o castigo. Isso era o reconhecimento de que tudo está nas mãos Dele e que só ele consegue julgar e punir  com justiça. De certa forma, o Novo Testamento também nos exorta a deixar a vingança nas mãos de Deus e não realiza-la por nós mesmos (Rm 12.18-21; Tg 1.20; 2 Tm 4.14, 15). Essas passagens mostram que nossa atitude tem que ser sempre de fazer o bem e orar pela pessoa. Isto não significa que Deus não possa ver a injustiça e agindo contra ela.

4) Além disso, podemos que em algum momento uma atitude de autoridade contra aqueles que se opõe à obra de Deus pode ser tomada. Foi o caso de Paulo em Atos 13.9-12. Neste caso ele foi movido pelo Espírito Santo para declarar o juízo de Deus contra aquele opositor. Mas, como disse alguém, você precisa ser muito espiritual para orar uma oração imprecatória em algum momento. Isso tem que partir do Senhor e não de você. E você precisa ter certeza que vem do Senhor

5) Por fim, também devemos levar em consideração que alguns salmos imprecatórios tinham caráter messiânico, como é o caso dos salmos 69 e 109. Esses salmos foram citados por Pedro ao substituir Judas por Matias (Atos 1.14-26), mostrando que aquelas imprecações tinham relação direta com a traição de Judas e suas consequências.

            Talvez esses posicionamentos não resolvam todas as questões levantadas pelos salmos imprecatórios e sua relação com aquilo que Jesus disse sobre amar e abençoar inimigos. Todavia, podem fornecer perspectivas que nos ajudarão na harmonização dessas questões.

Comentário

  • José Eduardo Lopes França
    Responder

    Devemos nos policiar antes de apresentar nossos inimigos em oração, pois podemos estar cheios de desejos de vingança, e sem querermos liberar o perdão que Cristo nos encinou.

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