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Como você inventaria o seu Deus?

Estimado leitor do BlogSF, quais são os atributos do Deus em quem você crê? Você conhece a personalidade desse Deus? Seus desejos para sua vida? Você tem afinidade com a revelação escrita que ele nos legou? Por falta de conhecimento muitos há que estão inventando um Deus à sua própria imagem e semelhança, distorcendo completamente a expressão bíblica da divindade. Essa é uma tendência natural do homem: “criar um Deus que lhe apraz e satisfaz desejos humanos e carnais.” Não nos admiramos, portanto, que grandes pensadores de um passado não tão distante tenham acusado as sociedades de fabricarem seus próprios deuses. No artigo “Uma fé chamada ateísmo”, vimos como o ateísmo militante possui seus “evangelistas”, pessoas prontas para não apenas defender a inexistência de Deus, mas também engajadas para atacar sua existência. Tais “evangelistas” tentam fundamentar seu posicionamento ateu valendo-se, principalmente, de pensadores como Feuerbach, Freud, Marx e Nietzsche, os quais apresentaram a figura de Deus como mera “projeção psicológica”, nada mais que uma invenção humana. A reflexão que segue busca responder uma pergunta instigante: “Se fôssemos inventar um Deus, será que ele seria mesmo parecido com o Deus da Bíblia?”

“O fato de alguém acreditar em Deus não prova em nada sua existência”. Esta tem sido a argumentação de alguns céticos que tentam desacreditar a essência das religiões: a existência do divino. Ao longo dos anos, assim como também nos dias atuais, muitos intelectuais têm taxado a religião como uma das maiores mentiras da sociedade, um instrumento social criado para satisfazer as decepções do ego humano com o intuito de ajudar as pessoas a alcançar o bem-estar pessoal e a ordem social.

A ciência expôs pejorativamente estes denominados “mitos”, fazendo que, entre outras coisas, a moral judaico-cristã se apresentasse menos convincente. A maior evidência de tudo isso, por incrível que pareça, ainda está calcada nas descobertas paleontológicas que tentam subverter os chamados “mitos da criação”, oferecendo substitutos que, igualmente, poderíamos chamá-los de “mitos da ciência”.

Em primeiro lugar, devemos considerar que este tipo de ataque não revela qualquer novidade. Feuerbach, filósofo alemão, foi um dos precursores a sugerir que Deus não era nada mais do que uma “projeção psicológica”. Segundo o seu conceito, a religião não passava de uma “neurose universal”. Freud, Marx e Nietzsche – todos eles – também se valeram do tema: “Deus, o imaginário pai cósmico inventado para a nossa proteção emocional, criado à nossa imagem para nos confortar, um espectro para encher nossos lugares ocos”.

Precisamos ponderar que o fato de alguém, ou alguma cultura, ter realmente sido impulsionada a fabricar uma religião não significa que verdadeiramente a tenha inventado. “Uma explicação alternada não é uma refutação” — este é um princípio importante no exercício da advocacia. A força de qualquer argumento deve estar baseada em seus próprios méritos.

Em segundo lugar, a ciência não fez da religião um mecanismo social insustentável. Muito pelo contrário. Vários fatos bíblicos vêm sendo, a cada dia, mais ratificados pelos diversos “braços científicos”. Além disso, em primeira instância, temos outra explicação para a convicção das pessoas na existência de Deus, estamos falando de uma resposta intuitiva. Como tal, esta resposta não pode ser submetida a um tubo de ensaio, mas sabemos que muitos outros conceitos ditos “científicos” também não podem.

Diríamos que a convicção em Deus é o primeiro princípio humano, porque toda pessoa possui um senso natural e involuntário da transcendência de Deus, e todas as culturas no mundo, sem exceção, reconhecem, de alguma forma, um barulho batendo em sua porta, “do lado de fora”. Este conceito é, às vezes, expresso de modo sutil e, paradoxalmente, até pode ser encontrado nos lábios de seus próprios algozes. A bem da verdade, exige-se muito trabalho sustentar uma convicção ateísta.

Proponho apontar algumas considerações acerca desta suposta “invenção do divino”, mas gostaria de restringi-la à cosmovisão cristã. Se fôssemos inventar um deus, como o faríamos? Se esta tarefa nos fosse incumbida, criaríamos, segundo o nosso bel-prazer, um deus como o Deus da Bíblia?

Obviamente, um deus formado por mãos humanas refletiria sensibilidades humanas. Isto fica nítido quando estudamos os deuses mitológicos. Este suposto “ser superior” deveria agir e pensar como nós agimos e pensamos, pois é fruto da nossa mente, ou como dizem os opositores: “é o resultado da nossa “projeção psicológica”.

Se o Deus judaico-cristão fosse uma invenção humana, sua moralidade refletiria nossos desejos. Assim, quando erramos, ele deveria, como nós, expor imediatamente sua reprovação, envergonhando-nos diante de nossas fragilidades, mas acabaria por relevar tudo no fim. Afinal de contas, ninguém é perfeito, nem mesmo ele.

O curioso sobre o Deus da Bíblia é como ele é infinitamente distinto de nós. Sua sabedoria e pureza nos confundem. Ele nos apresenta demandas morais que não podemos cumprir, e, então, ameaça retribuição em caso de obediência e desobediência. Em vez de estar disponível à nossa convocação e às nossas ordens, como uma espécie de “gênio da lâmpada”, ele desafia qualquer tentativa de manipulação humana. Dentro de seus parâmetros, o fraco e o humilde prevalecem e os últimos se tornam os primeiros.

Será que realmente seríamos capazes de inventar algo tão contrário aos nossos conceitos? É este o tipo de deus que criaríamos, caso possuíssemos nossos próprios dispositivos para fazê-lo? O molde da sociedade materialista e egocêntrica que vislumbramos no mundo atual é uma prova cabal de que se tivéssemos o intuito de satisfazer às “decepções do nosso ego”, jamais poderíamos encontrar guarida em um Deus tão santo.

Por Gregory Koukl Traduzido por Elvis Brassaroto Aleixo

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