Introdução

O grande problema, tanto teórico quanto prático, que incomoda a filosofia e a teologia, é o problema do mal. Entendê-lo e erradicá-lo é o desafio permanente e urgente do ser humano. Porque o mal, em todas as suas variações, existe, ocupa boa parte da reflexão humana. E como vencer males como doença, morte, desastres naturais, injustiça, maldade é um anseio que tem mobilizado as atividades do homem ao longo da história. Nem sempre é fácil compreender como um universo tão fantasticamente organizado pode ser tão nocivo. Sobreviver a ele tem sido nossa luta.

As Escrituras incluem, em suas previsões futurísticas, um número significativo de situações nas quais o mal é vencido parcialmente ou totalmente na história humana e no próprio universo. Condições de existência almejadas e não atingidas serão realizadas pela intervenção divina. As lutas da existência chegarão ao fim, dando lugar a condições completamente diferentes. De fato, alguns quadros futurísticos são fascinantes e apresentam uma profunda alteração da realidade como a conhecemos:

E ele exercerá o seu juízo sobre as nações e repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em enxadões e as suas lanças, em foices; não levantará espada nação contra nação, nem aprenderão mais a guerrear. (Is 2.4)

E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará, e o bezerro, e o filho de leão, e a nédia ovelha viverão juntos, e um menino pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e seus filhos juntos se deitarão; e o leão comerá palha como o boi. E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. (Is 11.6-8)

Julgará os aflitos do povo, salvará os filhos do necessitado e quebrantará o opressor. Temer-te-ão enquanto durar o sol e a lua, de geração em geração. Ele descerá como a chuva sobre a erva ceifada, como os chuveiros que umedecem a terra. Nos seus dias florescerá o justo, e abundância de paz haverá enquanto durar a lua. (Sl 72.4,7)

Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor, e envie ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado. O qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio. (At 3.19-21)

Depois, virá o fim, quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo império e toda potestade e força. Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte. E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, também o mesmo Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos. (1Co 15.24,26,28)

Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça. (2Pe 3.13)

E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas. (Ap 21.4)

Logo, a escatologia bíblica prevê o fim do mal em todas as esferas. E essas previsões não foram frutos dos anseios dos escritores bíblicos, mas são revelações divinas sobre um futuro que só Deus conhece, que ele mesmo planejou e que somente ele poderia produzir. Foram estas predições gloriosas que alimentaram a esperança da humanidade com respeito a um amanhã melhor.

O abandono da fé cristã por parte da civilização ocidental não significou o fim da esperança ou do anseio por um amanhã melhor. Pelo contrário, a esperança continuou fazendo parte do imaginário intelectual de pensadores e estadistas, tornando-se para muitos uma obsessão. A diferença é que em vez da intervenção divina, esse futuro glorioso passou a ser expressão do resultado dos esforços humanos que, com inteligência e pró-atividade, construiria o amanhã perfeito. Assim nasceram as utopias.