Introdução

Há certa dificuldade quando desenvolvemos um trabalho sobre o catolicismo romano. A nossa perspectiva é de um ocidental, onde essa instituição teve hegemonia cultural na maior parte dos países. Na América do Sul, e mais especificamente no Brasil, ela dominou o pensamento religioso ou filosófico desde as suas raízes. Os jesuítas não eram apenas cristãos. Eram católicos, no sentido mais extremo do termo. E, utilizando-se do monopólio educativo, garantiram plena influência da Igreja Católica Romana nestas terras.

Além dessa influência na América Latina desde o século 16, não podemos esquecer que semelhante influência foi exercida na Europa desde o século VI até o século 16 da nossa era. Só com a Reforma Protestante esse monopólio religioso, filosófico e cultural foi, de alguma forma, minimizado, mas, ainda assim, guardou sua supremacia.

Quando escrevemos sobre o catolicismo, em verdade, estamos escrevendo como evangélicos inseridos em um contexto novo. As primeiras igrejas protestantes só começam a se estabelecer na segunda metade do século 19, uns 350 anos após a chegada do catolicismo nestas terras. O pensamento católico dominou boa parte do pensamento brasileiro, ficando outras expressões cristãs praticamente desconhecidas até hoje.

Uma boa parte dos brasileiros desconhece, por exemplo, a Igreja Ortodoxa Grega, que domina geograficamente uma extensão tão grande ou maior do que a da Igreja Romana. Sem falar em inúmeros outros grupos, como, por exemplo, a Igreja Copta, no Egito, ou a Igreja Nestoriana, que dominou por séculos o cristianismo no Oriente Médio, chegando até mesmo às regiões da China. A Igreja Católica afirmava ser a única igreja verdadeira e se tornou, por isso, quase sinônimo de igreja, quando, na verdade, era apenas uma entre muitas facções do cristianismo.

Para entendermos esse fenômeno, podemos exemplificar pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como igreja mórmon. Fala-se como se eles fossem um grupo único com seu tipo de ensino, quando, na verdade, existem mais de cem “igrejas mórmons”, sendo a Igreja dos Santos dos Últimos Dias apenas a que mais se destacou.

Da mesma forma, embora o catolicismo tenha dominado o nosso cenário, não dominou todo o cenário. Mesmo que não existisse o cristianismo protestante, o catolicismo não seria a única expressão do cristianismo. Ao lado dele, teríamos muitas outras.

Falsa unidade

Outro fator a ser levado em conta em nossa análise, e que será mais bem desenvolvido mais à frente, diz respeito à alegada unidade da Igreja Católica. Embora alegue ser “una” e condene a diversidade protestante, a verdade não é bem essa. Ela é uma em si mesma porque declarou herege todos os que dela discordaram, como foi o caso da Igreja Ortodoxa Grega. Ou excomungou, e mesmo matou, aqueles que, decididamente, discordaram de seus dogmas. O que nela existe de unidade não foi conquistado por adesão pacífica, mas por coação e, até mesmo, por coerção. Talvez possamos fazer aqui também um paralelo, neste caso, com os muçulmanos, que agem de forma semelhante.

Além do que, existe no catolicismo uma pseudo unidade. Basta pensamos no catolicismo popular da Bahia e no catolicismo americano, por exemplo. Ou pensarmos nas comunidades eclesiais de base que nada mais eram do que células comunistas catolicizadas e o movimento carismático que se assemelha muito ao movimento evangélico. Basta isso para percebermos que não há um catolicismo, mas vários, adequando-se conforme a necessidade. E, entre si, eles se criticam e condenam. Então, sua unidade é apenas marketing, mas do que um fato.

Nossa abordagem, portanto, se baseia no fato de que não estamos analisando apenas a vertente histórica principal do cristianismo que se corrompeu ao longo do tempo. Estamos abordando um dos maiores grupos cristãos conhecidos e, também, um dos que mais se corromperam durante a sua existência. Se estivéssemos na Polônia ou na Ucrânia, por exemplo, o catolicismo significaria pouco para nós.  É com esse espírito que vamos proceder nosso estudo.

Lembremos que, quando falamos sobre poderio católico, não se trata necessariamente de um poderio econômico, embora esse também seja um fato. Enfrentamos aqui uma instituição que manteve domínio imenso, em imensa extensão geográfica e em imenso período de tempo. Ainda assim, permanece um entre muitos e sua posição não deve nos intimidar. A quantidade de sua membresia ao redor do mundo não tem poder para transformar mentiras em verdade. Não importa o tempo de sua existência ou a dimensão de sua atuação — a verdade é a verdade e assim permanece.