Introdução

O mundo tem de conviver hoje com duas afirmações conflitantes: a Palavra de Deus, ensinando que o homem foi criado por Deus conforme a sua imagem e semelhança, e a afirmação de Charles Darwin, de que o homem originou-se mediante um lento processo de evolução, indo de formas mais simples até as mais complexas, tornando-se o que é hoje.

Em sua época, suas teorias causaram grandes conflitos religiosos. Debates calorosos entre a ciência e a religião chegaram mesmo a provocar mortes. Homens de mentes brilhantes estavam nos dois lados da disputa, tentando provar a veracidade de sua crença.

Mas, hoje, cerca de 150 anos após a publicação do livro Origem das espécies por meio de seleção natural ou preservação de raças favorecidas na luta pela vida (1859), temos condições de avaliar, de forma mais exata, os efeitos dessas ideias. Pelos seus frutos os conhecereis (Mt 7.17). O nosso intuito, aqui, não é denunciar a falta de base científica da evolução, mas analisar em que ponto esta visão darwiniana da vida entra em choque com as afirmações bíblicas e os resultados dela decorrentes.

Alguém pode considerar estranho o fato de incluir evolucionismo em meio a religiões e seitas. Foge completamente do padrão. Para alguns, não passa de uma ciência e, por esse motivo, não pode ser julgado pelos mesmos critérios que julgaríamos as crenças religiosas e credos em geral.

De fato, estamos lidando com um assunto sui generis, um pouco distante das questões doutrinárias com as quais debatemos. Entretanto, para quem estudou a respeito do assunto, sabe que o evolucionismo vai muito além de uma mera questão científica. Embora, parcialmente, seu desenvolvimento ocorra nos meios acadêmicos, a verdade é que sua influência vai muito além desse campo. Os efeitos da teoria da evolução, conforme proposta por Charles Darwin, apresentaram um potencial ideológico imenso, muito além da mera biologia

O resultado das proposições de darwinistas foram mais amplos do que os biólogos podem controlar. História, filosofia, ética, cosmovisão, política e até mesmo religião, foram influenciados por suas ideias. Recentemente, a própria psicologia se rendeu às proposições evolucionistas para formular suas análises e receitas.

Qual ateu não se apoia em Darwin para explicar a origem do Universo sem a participação de um Deus inteligente e sábio? Esse motivo já seria suficiente para exigir um exame apologético de tudo o que envolve a teoria da evolução das espécies pela sobrevivência dos mais aptos.

“A ideia de evolução parece-nos hoje tão evidente que é difícil imaginar como o mundo surgiu sem ela. Darwin teve o mesmo destino de Freud, que disse: ‘Espero que algum dia perguntem: o que havia de tão especial nesse tal de Freud? Tudo o que ele disse era tão óbvio’. Por outro lado (mais uma vez como Freud), quando as ideias de Darwin são examinadas em profundidade, podem parecer totalmente não científicas ou até mesmo sem sentido. Em última análise, ‘sobrevivência do mais forte’ não significa senão ‘sobrevivência do que sobrevive’”.

Por razões óbvias, nossa abordagem do evolucionismo sofrerá alterações no roteiro usual. Por tratar-se mais de uma cosmovisão do que de uma religião, suas proposições e refutações seguirão por outro caminho. Alguns tópicos, provavelmente, estarão ausentes e outros serão, evidentemente, acrescentados.

É muito improvável que encontremos um grupo de evolucionistas se reunindo com um credo nas mãos e dispostos a fazer adeptos. Aqueles que nele acreditam, provavelmente serão ateus, céticos e agnósticos. Secularistas, para quem esta vida é tudo o que importa, se contentarão em citar Darwin para explicar a vida.

A verdade é que, no ambiente acadêmico, Darwin é unanimidade, embora não seja absoluto. Com exceção de cristãos comprometidos, o meio intelectual se sentiria ofendido, caso tivessem de aceitar um Deus criador. Mesmo que não tenha um conhecimento exato dos ensinos de Darwin, defenderão sua concepção geral como científica e incontestável.

A verdade é que sua validade científica tem sido contestada nas últimas décadas e seus efeitos concretos na história são, agora, bastante mensuráveis. Tanto um como o outro não podem ser ignorados por aqueles que defendem com unhas e dentes a evolução das espécies e suas premissas.

“O século vinte seria incompreensível sem a revolução darwiniana. As correntes sociais e políticas que varreram o mundo nos últimos oitenta anos teriam sido impossíveis sem a sua sanção intelectual […] A influência da teoria evolutiva sobre campos bem distantes da biologia é um dos exemplos mais espetaculares de como uma ideia especulativa, para a qual não há praticamente nenhuma evidência científica, pode vir a moldar o pensamento de uma sociedade inteira e dominar a perspectiva de uma era”.

Como veremos mais à frente, o nazismo e mesmo o comunismo não escaparam de sua influência. O primeiro é quase um derivado direto do evolucionismo e o segundo recebeu sanção em muitos pontos. Isso porque o darwinismo e seus derivados tornaram-se uma espécie de dogma científico, uma crença, uma posição que não aceita contestação nenhuma.

Muitos têm comentado, inclusive, que a força do evolucionismo está no fato de ele, na verdade, ser um pressuposto filosófico, mais do que uma teoria científica. Desse modo, mesmo que, cientificamente, ele sofra algum descrédito, os que o sustentam preferem mantê-lo por uma questão de cosmovisão. Se a teoria de Darwin for rejeitada como inválida, o que resta é aceitar que o mundo teve um Criador e é produto de uma mente inteligente. Os cientistas, com sua visão naturalista e materialista do Universo, definitivamente se recusam a aceitar esse fato.

Sendo assim, ocorre uma rejeição antecipada de qualquer conceito que leve à existência de Deus. Mesmo que provas científicas corroborem a afirmação de que todas as coisas foram criadas dentro de um padrão que revela um projeto intencional e uma mente inteligente por trás dele, será rejeitado porque conduziria a Deus. Diante disso, só podemos entender que o evolucionismo teve caminho livre no mundo acadêmico mais como resultado de uma escolha do que de comprovação científica, de fato.

Se cremos em um Criador, temos de estar preparados, também, para responder com mansidão e temor a qualquer que pedir a razão de nossa fé. É bem provável que encontraremos muitos que, obstinadamente, se agarrarão a seus pressupostos evolucionistas por razões muito além da ciência.

Todavia, é possível haver aqueles cuja explicação de Darwin e seus seguidores há muito deixou de ser suficiente para esclarecer a vida, o mundo e, até mesmo, o ser humano. Para esses, precisamos e podemos ter uma palavra sábia e coerente que, no mínimo, os levará a refletir e, no máximo, os levará a um encontro com o Criador.