Introdução

Download

O objeto da lógica

Como todo ramo do saber, a lógica também tem um objeto especial de investigação. Independentemente do objetivo e da própria natureza da investigação, lógica é um assunto que tem sido largamente debatido. Se pretendêssemos transcrever aqui as definições mais célebres que têm sido dadas à lógica, a escolha seria realmente difícil, porque são tantas e todas muito importantes.

Possivelmente, ocorreria o mesmo que já vimos acontecer com a filosofia: o amontoar de um sem-número de citações seria de pouco ou de nenhum préstimo, o que poderia resultar mais confusão do que clareza.

Para o propósito que temos em vista, consideramos preferível, e até mesmo suficiente, ressaltar duas definições: a de John Stuart Mill (1806–1873), um dos mais conhecidos lógicos ingleses e de grande fama nos tempos modernos; e a do professor Vieira de Almeida, enunciada recentemente.

Vamos às definições.

John Stuart Mill declara: “A lógica é a ciência das operações intelectuais que servem para a avaliação da prova. Ao lógico compete a análise do processo intelectual a que se chama raciocínio ou inferência e as diversas operações mentais que o facilitam. Ainda compete ao lógico estabelecer e fundamentar sobre esta análise um conjunto de regras ou cânones para certificar a validade de toda a prova de uma proposição dada”.

Quanto a Vieira de Almeida, sua afirmação é a seguinte: “Todo domínio do saber se caracteriza e se organiza progressivamente pelo objetivo e pelo método.

Se tomarmos por:

a) objeto: a atividade geral e essencial do pensamento
b) método: a análise do pensamento expresso

Teremos determinado um domínio, que pode ser chamado de lógica”.

Quanto às opiniões, existe uma questão: quais delas frequentemente coincidem entre si, porque o objeto da lógica é o estudo das condições da verdade.  Kant, por exemplo, para quem “a lógica se ocupa tão somente da forma do pensamento em geral”, disse: “É a ciência da aplicação legítima do entendimento”.

N. Keynes, escreveu: “A lógica pode ser definida como a ciência que estuda os princípios gerais do pensamento válido. O seu objeto é discutir as características dos juízos, considerados não como fenômenos psicológicos, mas como exprimindo os nossos conhecimentos e crença. E, em particular, procura determinar as condições em que é legítimo passar de uns juízos a outros juízos, que são a sua consequência”.

Para alguns autores, a lógica possui, em comum com a ética e a estética, o caráter de ser uma disciplina normativa, isto é, que tem por objeto “o valor dos fins em si mesmos”.

“… Apesar de Kant ter dito que a lógica não avançou um só passo desde Aristóteles, e que ela estacou e parece terminada, na opinião praticamente unânime dos tratadistas, semelhante asseveração já não é aceita. Hoje, são maioria os que consideram a lógica aristotélica como mero caso específico do conjunto da lógica. Muitos são, também, aqueles para quem a lógica adquiriu título de ciência, constituindo-se em disciplina autônoma, não sendo mais um ramo do saber filosófico. Por isso, atualmente, tornou-se comum falar da oposição entre a ‘antiga lógica’ — a aristotélica — e a ‘nova lógica’, que se desenvolve em diversas direções. Destas, a mais estudada nos países anglo-saxônicos e em Portugal é a lógica do tipo matemática, que procura fazer da lógica um cálculo análogo à álgebra, pelo emprego de símbolos. Essa ‘lógica matemática’ foi iniciada por Morgan e Boole, sendo, frequentemente, designada por ‘logística’ e, às vezes, por ‘lógica simbólica’”.