Introdução

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Verdade versus Heresia

“Estas coisas vos escrevi acerca dos que vos enganam.” (1Jo 2.26)

A distorção do ensino cristão não é uma exclusividade de nossa época. Aliás, em cada período da Igreja se levantaram homens que de uma forma ou outra deturparam a  mensagem da salvação.

A Igreja primitiva, desde o período apostólico, teve de lidar com este fator. Além da perseguição externa que buscava levar os cristãos a renegar sua fé, havia ainda ensinos errôneos que comprometiam a mensagem. Cabia, pois, aos líderes de cada época, manterem-se firmes contra a perseguição e ao mesmo tempo rebater os ensinos heréticos por meio das Escrituras.

Estes falsos ensinos foram, muitas vezes, completamente vencidos, ressurgindo tempos depois na história da Igreja. Outras vezes, formaram seitas particulares que duraram anos até se extinguirem por si só. Na verdade, a primeira área desenvolvida dentro do ensino teológico foi a apologética. O primeiro desafio foi defender a fé diante dos falsos ensinos e mostrar a superioridade do cristianismo sobre as filosofias e religiões vigentes.

Vale lembrar que o Evangelho surge dentro de um contexto cultural, tanto judaico, quanto greco-romano e, portanto, era impossível evitar a influência desse contexto sobre a mensagem. Era muito fácil para um indivíduo ou grupo, misturar elementos evangélicos com a filosofia grega, ou com a religião judaica ou mesmo com as “seitas de mistério” existentes na época. O sincretismo predominou inúmeras vezes.

Nesse ínterim, é importante salientar a mensagem do Evangelho em dois aspectos:

| Uma nova manifestação de Deus para a humanidade

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). Embora a vinda de Jesus tenha sido o cumprimento de promessas milenares, agora não se tratava mais de mera continuação do Antigo Testamento, mas a introdução na história humana do próprio Filho de Deus, possibilitando um novo relacionamento com este Deus (Ef 3.1-8).

| Uma nova realidade expressa de forma escrita e inspirada divinamente

Não se tratava de simples reflexão sobre os acontecimentos, mas de uma mensagem revelada: “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.11,12). Embora a transmissão da mensagem pudesse se utilizar do contexto dos mensageiros, a essência da mensagem era originária em Deus. Não era uma apropriação de conceitos já existentes, mas a proclamação da verdade divina.

A luta interna dos líderes cristãos foi justamente manter pura esta revelação, protegendo-a da infiltração das ideias pagãs ou mesmo judaicas correntes. Conforme a mensagem do Evangelho sofria influência do meio, tornava-se necessário a formulação de conceitos bem definidos. A formação do Cânon, os Concílios e os Credos foram necessidades cristãs históricas como meio de proteger a mensagem das distorções.

Principalmente em sua infância, quando a Igreja ainda estava em fase de formação, esse tipo de cuidado era relevante. O cristianismo poderia ter-se diluído em meio aos inúmeros movimentos e às variadas filosofias da época, como quase aconteceu, se não fosse a firmeza das posições apresentadas pelos apóstolos e apologistas da Igreja primitiva.

Porém, esta luta tem prosseguido através dos séculos. As heresias renascem e crescem nesta Era de rápida informação. E o passado tem muito a nos ensinar sobre esta batalha. O campo da ortodoxia cristã também gerou muitos heróis. Dignos de serem lembrados e imitados não são apenas aqueles que foram instrumentos de Deus para divulgação do Evangelho (os evangelistas), mas também aqueles que dedicaram suas vidas a manter esse mesmo Evangelho puro (os apologistas).

“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.” (Judas 3).

Que assim seja!