Introdução

O Jornal Folha de São Paulo, de 14 de abril de 2004, anunciou na sessão Opinião sob o título “País violento” que “a morte é inevitável. É a única certeza na vida de cada ser humano”. Entretanto, diferentemente, sabemos que existe uma outra certeza que deveria acompanhar todo ser humano e que inclusive é causa de sua morte, isto é, o fato de que ele é pecador por natureza. Entre tantas indagações e perguntas que as pessoas fazem no âmbito religioso, uma, sem dúvida, goza de mais assédio: “O que é pecado?”

Discutir a doutrina do pecado não é tarefa fácil, principalmente nos dias atuais. O pecado é para muitos uma ideia pouco familiar. Ninguém, a não ser os interessados no assunto (que são poucos) discutem esta questão. O pecado parece causar um sentimento de violação contra a lei ou a moral divina, e esta sensação resulta em culpa. E culpa é algo que a minoria quer sentir. No entanto, para o cristão, e especialmente para o estudante de teologia, é imprescindível conhecer e compreender esta doutrina. Em suma diríamos que é impossível negar o fato de que o pecado é uma realidade, assim como a morte. A doutrina do pecado é tão importante que o teólogo A.B. Langston, em sua obra Teologia Sistemática, afirmou que “errar, portanto, na doutrina do pecado, é errar também na doutrina da salvação. Um exemplo: pessoas há que julguem que o pecado é devido ao meio em que o homem vive; logo, melhorando o meio o pecado desaparece”.

Os filósofos com todas as suas teorias e suas escolas não puderam definir o que é pecado. As religiões e as seitas de certa forma apresentam conflitos acerca desta doutrina. Onde estaria a resposta? Acreditamos piamente que a teologia, se amparada pela Bíblia Sagrada, oferecerá a resposta divina concernente a este assunto. Descobrir a causa das inquietações, das violências, das guerras, da miséria e tantas outras calamidades é a insaciável busca não resolvida e interminável dos estudiosos no assunto. Tudo isso tem culminado para um ponto de nostalgia entre os seres humanos. No entanto, o profeta Jeremias, de forma simples e objetiva, respondeu o porquê das inquietações humanas quando bradou: “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados” (Lm 3.39).

Ignorar a realidade do pecado em toda a sua abrangência é “dar murros em ponta de faca”, pois aceitemos ou não, ainda que ele esteja numa esfera metafísica e seja estranho ao ser humano, o seu efeito na vida das pessoas e na vivência social, marginalizando e escravizando o ser que Deus criou para a sua glória, atesta a sua veracidade e realidade.

Quando Deus acabou a criação, a Bíblia relata que: “… viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto”. Tudo era harmonia entre Deus e sua criação, quando apareceu Satanás para deformar e ofuscar a comunhão de Deus com o homem. Contudo, o primeiro ato de Deus após o ser humano transgredir o mandamento divino foi ir em busca do homem: “E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?” (Gn 3.9).

Passamos, a partir dos próximos capítulos, a discutir a questão do pecado por diversos ângulos. O primeiro ponto será definir a natureza do pecado.

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