Introdução

O Espírito Santo é uma das três pessoas da Santíssima Trindade e, justamente por isso, deve ocupar, em nossa grade curricular, a posição de matéria a ser estudada, logo depois da Teontologia (Doutrina de Deus) e da Cristologia (Doutrina de Cristo).

Ao longo dos séculos, a doutrina do Espírito Santo (ou simplesmente “doutrina do Espírito”, ou ainda, paracletologia) não recebeu tanta atenção dos teólogos como as outras doutrinas receberam, e diversos fatores podem explicar esta espécie de “marginalização” para com a doutrina do Espírito.

Em primeiro lugar, o fato de as Escrituras não atribuírem um nome especial ao Espírito Santo já dificulta o enfoque na sua investigação. Tanto o Pai quanto o Filho revelaram nomes pelos quais devem ser reconhecidos, além de outros títulos também atribuídos a eles. O Espírito Santo, por sua vez, não revela nas Escrituras qualquer nome em particular, mas somente títulos (como “Espírito Santo”, “Consolador” etc.). Este próprio aspecto da revelação bíblica nos direciona automaticamente para um estudo mais aprofundado do Pai e do Filho enquanto nos deixa um pouco limitados no estudo do Espírito Santo.

Em segundo lugar (e talvez como consequência do primeiro), o Espírito Santo não foi alvo de grandes debates teológicos até o quarto século, quando os teólogos arianos, liderados pelo bispo Macedôneo, retomaram seus ataques heréticos ao Espírito de Deus. Eles já haviam dito que Jesus era essencialmente inferior ao Pai, porém, em seguida, preconizaram que o Espírito era igualmemente inferior ao Filho. Dessa forma, os arianos atribuíram à Trindade divina uma gradação de essência, de substância. Tais ataques à deidade do Espírito levaram os teólogos a desenvolverem mais profundamente as declarações de concílios anteriores que apenas reconheciam a individualidade pessoal do Espírito Santo e sua deidade.

Finalmente, em terceiro lugar, o próprio Espírito, na revelação neotestamentária, atesta que seu principal objetivo é falar de Jesus e revelar ao homem sua obra expiatória (Jo 16.13,14). O próprio Espírito Santo deseja que atentemos para Cristo e em Cristo foquemos nossos esforços pessoais, devocionais e evangelísticos (Rm 8.15; At 2.4-8,40). Vale lembrar, contudo, que este ministério do Espírito não o relega a uma posição substancial ou hierarquicamente inferior ao Pai ou ao Filho, como veremos no desenvolvimento desta matéria. Por estranho que nos pareça, o Espírito, ao mesmo tempo em que é digno da mesma honra que o Pai e o Filho (Mt 28.19), não reclama atenção para si mesmo. Podemos concluir que as relações entre as pessoas divinas para com sua criação não podem ser completamente entendidas por nós, de forma que devemos nos contentar em assegurar o que a Bíblia diz, ainda que não a compreendamos totalmente.

Em síntese, portanto, estes três fatores contribuíram para o fraco enfoque que a paracletologia recebeu ao longo da história da teologia. No entanto, um súbito movimento que despontou no século 20 trouxe novamente os debates acerca do Espírito de Deus: o movimento pentecostal.

A importância da paracletologia, então, voltou a ser reconhecida no ambiente teológico dos últimos anos devido ao surgimento do pentecostalismo, cuja ênfase nos ministérios e obras do Espírito Santo fizeram com que as discussões a respeito dele viessem à tona novamente e atraíssem a atenção da comunidade cristã para esta doutrina. Dessa forma, tanto as discussões sobre o Espírito relacionadas ao movimento pentecostal quanto os frequentes desvios doutrinários relacionados à paracletologia que surgiram nos últimos anos levaram a comunidade teológica a voltar suas atenções para a paracletologia. As consequências deste recente enfoque podem e devem ser aproveitadas por nós de forma que contribuam para nossa maturidade teológica e, em última análise, para o desenvolvimento do Reino de Deus.

Assim, nesta matéria, o aluno terá contato com a parecletologia em um alto nível de desenvolvimento, e, sempre que possível, diferentes concepções resultantes de diferentes teologias serão apresentadas, visando proporcionar ao estudante o conhecimento tanto da abordagem histórica acerca do Espírito e sua obra, quanto o conhecimento da abordagem pentecostal acerca dos mesmos.

Antes, contudo, de iniciarmos o estudo, fazem-se necessárias algumas definições pertinentes à doutrina do Espírito Santo. Esta área da teologia sistemática é também conhecida como pneumatologia, termo derivado das palavras gregas pneuma (espírito) e logos (ensino sobre). Assim, a definição de pneumatologia é aplicada corretamente à doutrina do Espírito Santo significando algo como “estudo/discurso sobre o Espírito”. Além desta palavra, como vimos, o termo paracletologia também é utilizado para fazer referência a esta disciplina. Paracletologia deriva-se das palavras gregas paracleto (“advogado”) e logos (“ensino sobre”). Uma vez que o ministério do Espírito associado ao termo paracleto só é claramente vislumbrado no Novo Testamento, esta matéria é comumente chamada de paracletologia quando se refere à doutrina do Espírito a partir do prisma neotestamentário, particularmente, tendo em vista seu operar na obra de redenção.

Entretanto, apesar da aparente diferença de aplicação dos termos, ambas as nomenclaturas se referem à mesma disciplina e abarcam essencialmente o mesmo conteúdo, de forma que usaremos em nosso estudo ambos os termos intercambiavelmente. Iniciemos, então, o estudo da doutrina do Espírito.

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