Introdução

Definições

Antes de passearmos pela história do pensamento humano, é necessário observarmos o conceito de filosofia. A definição do dicionário Aurélio é bastante ampla e, por isso, extremamente abrangente. Do grego philosophía, “amor à sabedoria”, vejamos suas diversas acepções:

  1. Estudo que se caracteriza pela intenção de ampliar incessantemente a compreensão da realidade, no sentido de apreendê-la na sua totalidade, quer pela busca da realidade capaz de abranger todas as outras, o Ser (ora ‘realidade suprema’, ora ‘causa primeira’, ora ‘fim último’, ora ‘absoluto’, ‘espírito’, ‘matéria’, etc.), quer pela definição do instrumento capaz de apreender a realidade, o pensamento (as respostas às perguntas: que é a razão? o conhecimento? a consciência? a reflexão? que é explicar? provar? que é uma causa? um fundamento? uma lei? um princípio? etc., etc.), tornando-se o homem tema inevitável de consideração [Ao longo da sua história, em razão da preeminência que cada filósofo atribui a qualquer desses temas, o pensamento filosófico vem-se cristalizando em sistemas, cada um deles com uma nova definição da filosofia].
  2. Conjunto de estudos ou de considerações que tendem a reunir uma ordem determinada de conhecimentos (que expressamente limita seu campo de pesquisa, p. ex., à natureza, ou à sociedade, ou à história, ou a relações numéricas, etc.) em um número reduzido de princípios que lhe servem de fundamento e lhe restringem o alcance [p. ex.: filosofia da ciência, filosofia social, filosofia da história, filosofia da matemática, etc.].
  3. Conjunto de doutrinas de uma determinada época ou país, ou sistema constituído de filosofia [p. ex.: a filosofia grega, a filosofia cartesiana].
  4. Conjunto de conhecimentos relativos à filosofia, ou que têm implicações com ela, ministrados nas faculdades.
  5. Tratado ou compêndio de filosofia.
  6. Exemplar de um desses tratados ou compêndios.
  7. Razão; sabedoria.

Embora não esgotem completamente os significados inerentes à palavra e os demais significados adquiridos ao longo da história, todas essas definições nos ensinam um pouco sobre o que a filosofia realmente é.

A filosofia pode ser chamada de “a mãe das ciências”. Nasceu praticamente como um sinônimo do ato de pensar, mas não um pensar a esmo, um pensar sem critério. Tinha como finalidade extrair da mente a sua máxima potencialidade, a fim de tornar o mundo ao redor completamente inteligível. Buscava descobrir tudo a respeito de tudo. Era a mente invadindo cada espaço para compreender e explicar seu significado.

Na medida em que o tempo foi passando, o saber acumulado pela filosofia multiplicou-se de tal forma a abranger diversos aspectos da realidade. Não demoraria e os diversos saberes se transformariam em ciências autônomas. Escapariam do domínio do pensamento abstrato e entrariam para o rol das investigações empíricas e das aplicações técnicas, como foi o caso da psicologia ou da física, para citar apenas alguns exemplos.

Conhecer a história da filosofia é conhecer a história do pensamento humano, que teve um desenvolvimento cumulativo. Alguém chegou a falar em anões subindo em ombros de gigantes. A herança de conhecimento foi deixada, a cada geração, aos seus respectivos sucessores. Anões foram subindo no ombro de gigantes que, por sua vez, se tornavam gigantes maiores sobre os ombros dos quais se elevariam outros anões. Podemos concordar plenamente com o admirável texto de Blaise Pascal, o célebre jansenista de Port Royal, em sua obra intitulada Fragmentos de um tratado sobre o vácuo (1647):

“E assim como conserva esses conhecimentos, pode aumentá-los com facilidade, de modo que os homens se encontram hoje, de certa maneira, no estado em que se encontrariam os filósofos se lhes tivesse sido permitido envelhecerem até agora juntando aos próprios conhecimentos aqueles que seus estudos lhes teriam trazido através de tantos séculos.’

“Donde, em virtude de uma prerrogativa especial, não só cada homem progride dia a dia no conhecimento das ciências, mas ainda todos juntos as fazem progredir sem cessar, à medida que o Universo envelhece. Na sucessão dos homens ocorre o mesmo que na das idades diferentes em particular […] E assim toda a série de homens no decurso de tantos séculos deve ser considerada como um só homem subsistindo sempre e aprendendo continuamente”.

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