Introdução

Da Reforma Protestante aos dias de hoje

O período de história de missões que estaremos estudando a partir de agora, embora seja menor (cerca de 500 anos), é muito mais significativo, não apenas quantitativamente, mas, também, qualitativamente. E, ainda, é preciso esclarecer que, mesmo nesse período de cinco séculos, foram os dois últimos que transformaram o cristianismo em uma religião mundial. Regiões dominadas por outras religiões foram transformadas em verdadeiros baluartes do evangelho, como é o caso da Coreia do Sul, por exemplo.

O impulso por trás dessas ondas missionárias foram os frequentes avivamentos, locais e nacionais, que, na maioria das vezes, produziu um ardor evangelístico contagiante. Desde seus primeiros passos, o trabalho missionário esteve ligado à vida espiritual vigorosa. O elemento sobrenatural é inegável, ainda que nem sempre esteve presente. Algumas vezes, foi fruto de uma reflexão sincera e madura, que levaram pioneiros e igrejas a compreender que fazer missões era um dever de toda a Igreja. Essa consciência foi gradativa, mas permanente. Antes de mudar a face do planeta, plantando igrejas por todas as nações, era necessário que a Igreja mudasse a si mesma, compreendendo sua natureza e missão.

Parece que, em cada período, determinado povo se levantou como pioneiro, erguendo a bandeira de missões, sendo seguido por outros. Alemães, ingleses, estadunidenses levantaram-se, cada um por sua vez, despertados para a tarefa missionária. Cada um forneceu sua contribuição específica. E essas contribuições, somadas, se tornaram em um movimento irreversível, responsável pela evangelização do mundo.

O que podemos constatar é um crescimento real do cristianismo em suas várias formas. Apesar do acelerado crescimento da população mundial, o porcentual de crescimento do cristianismo foi maior que o da população. Existe um número cada vez maior de cristãos em relação aos não cristãos. E, apesar do crescimento de outros grupos, como muçulmanos e ateus, uma quantidade de pessoas cada vez maior professa a fé em Jesus Cristo.

Também é preciso lembrar que houve um deslocamento do foco central do cristianismo. Durante um bom tempo, o hemisfério norte, principalmente a Europa e a América do Norte, foram centros de irradiação evangélica. Com o avanço do cristianismo, esse centro deslocou-se para o hemisfério sul, onde a maior parte da população cristã está hoje concentrada. Esse fato levou o historiador britânico, Philip Jenkins, a escrever, em sua obra A próxima cristandade: “Até recentemente, a esmagadora maioria dos cristãos vivia em nações brancas, o que permitiu que os teóricos falassem em tom presunçoso e arrogante da civilização ‘cristã europeia’. Inversamente, autores radicais viram no cristianismo um braço ideológico do imperialismo ocidental. Muitos de nós partilhamos do estereótipo do cristianismo como religião do ‘ocidente’, ou, para usar outra metáfora popular, no Norte do globo […] Entretanto, nos últimos cem anos, o centro de gravidade do mundo cristão deslocou-se inexoravelmente para o Sul, para a África, Ásia e América Latina. Já em nossos dias, as maiores comunidades cristãs do planeta encontram-se na África e na América Latina.1

Conhecendo a nossa situação atual, estaremos fazendo uma viagem no tempo, acompanhando as pessoas, os acontecimentos e os movimentos que transformaram o cristianismo de religião europeia para religião mundial. E esse trabalho foi fruto da visão e da ação do protestantismo, um movimento que, tímido a princípio, tornou-se intenso e influente no mundo.


1Rio de Janeiro: Record, 2002, p.16.