Introdução

Download

Ao iniciarmos nossa apreciação às observações críticas que muitos estudiosos fazem em relação ao texto sagrado, temos, antes, de ter uma perfeita compreensão e aceitação, com base na fé, de qual o significado e a importância que a Bíblia tem para cada um de nós.

Ela, a Bíblia Sagrada, não traz semelhança com qualquer outra obra literária produzida pelo homem em qualquer tempo da história humana, pois se autoafirma como a revelação de Deus para os homens num tempo em que escassos recursos impediriam qualquer pessoa de fraudar as profecias, as quais embora enunciadas, por vezes, tão complexas e ininteligíveis, noutras oportunidades revelaram-se muito claras e objetivas.

Sem essa percepção, estaríamos sujeitos a toda espécie de crítica e contestação sem que pudéssemos fazer uma defesa adequada de tudo o que cremos e sentimos no tocante a nossa comunhão com Deus. Mas é claro que mesmo os mais piedosos cristãos precisam se dispor a conhecer a Bíblia o mais profundamente possível, desejando de fato ter em mãos as ferramentas que estão disponíveis nas prateleiras de antropologia, história  e arqueologia.

Existem muitos outros volumes literários que reivindicam o mesmo grau de inspiração divina da Bíblia, como no caso do Corão Sagrado dos islâmicos, mas é claro que ele mesmo não contém no bojo de seu conteúdo as provas necessárias para que possa ser classificado no mesmo patamar bíblico de inspiração e perfeição. Isso se constata imediatamente pelo fato de não podermos encontrar nele uma tão coesa explanação das profecias concomitantemente ao cumprimento de cada uma delas.

Ainda referente à autenticidade bíblica, notemos que nela encontramos os discursos necessários ao esclarecimento de seus próprios anais, ou seja, a Bíblia explica-se a si mesma em matéria de ortodoxia. As Escrituras Sagradas contam com a veracidade oferecida pela história, que embasa as declarações encontradas nas falas de grandes personagens bíblicos.

Não é correto, logo, dentro desta mesma ótica, acreditar que o texto bíblico veterotestamentário tenha tido como destinatários específicos os homens e mulheres do século 21, com os problemas que lhes são peculiares. Antes, a proposta atingia os destinatários legítimos, os judeus, com sua história de sofrimento, cativeiro, incredulidade e a tão sonhada libertação.

Por outro lado, descabe acreditar que o Antigo Testamento não possa contribuir com a construção da nossa fé em tempos tão modernos se comparados à época da peregrinação no deserto. Pelo contrário, suas histórias, suas profecias e suas promessas nos alcançam mesmo em dias atuais, acrescentando em nosso cotidiano espiritual a compreensão necessária para que alguns fatos fiquem mais cristalinos no exercício de nossa fé.

Ainda é certo que, como um quebra-cabeça de encaixe perfeito, o Antigo Testamento se afina com o Novo Testamento sem qualquer discrepância, mesmo quando a crítica tenta dar distinção entre a divindade guerreira e iracunda do Antigo Testamento em relação ao Deus amoroso e cheio de misericórdia que propaga sua mensagem salvífica nos anais neotestamentários.

A compreensão adequada acerca dos escritos do Antigo Testamento pede, então, que muitas nuanças componham nossa avaliação, como região da peregrinação, o tempo em que tal peregrinação se deu, a cultura, os acontecimentos históricos e os sobrenaturais, enfim, uma gama de critérios que tornam possível uma observação mais equilibrada e coesa com todo o mais da Bíblia, sem que excessos ou partidarismos imaturos comprometam a real ideia e os argumentos que fundamentam tudo o que a Bíblia encerra.

Introduzir o Antigo Testamento é, na verdade, expor os primeiros pontos que tornam importante a compreensão desse pano de fundo cheio de pequenos detalhes, os quais, ignorados pela crítica, servem como lastros de confiança que impedem o êxito contra as acusações que normalmente nascem de corações ímpios que não têm em Deus o mestre perfeito, cujas ações se sobrepõem ao raciocínio dos homens.

Dessa forma, os primeiros trinta e nove livros da Bíblia ganham, por meio de estudos e dedicação, a notoriedade que lhes é peculiar em razão de todas as verdades neles expressas, e mais ainda, sem se contradizer ou contraditar o que vem depois, ou seja, todo o advento do Novo Testamento, que como numa peça única, se funde em verdades e mistérios sem jamais comprometer o plano de salvação proposto pelo criador de todas as coisas.

No decorrer dessa disciplina, veremos que o Antigo Testamento, em toda a sua extensão, quer centrar sua mensagem no povo judeu e em tudo o que se relacionou a ele enquanto vivia sob a égide do Pai, ainda que em momentos de fraqueza espiritual esse mesmo povo tenha questionado seu Deus, pois sempre e de uma forma muito ordenada o povo judeu compôs a história perfeita acerca de uma raça subjugada pelo mundo nos mais variados períodos da história.

Veremos então abordados pontos como as línguas que podem ser encontradas nas expressões e nos hebraísmos muito frequentemente empregados entre o povo, especialmente o hebraico e o aramaico, e suas variações dialéticas, tais como o árabe, o assírio e o fenício, que constituíram formas idiomáticas que ajudam na compreensão de muito do que foi dito pelos personagens bíblicos, e que foge da compreensão daqueles que só intentam denegrir a veracidade das páginas bíblicas.

A própria história do povo hebreu e as comunidades estrangeiras com as quais houve contato, a religião a que pertenciam esses povos não hebreus e que posteriormente ganhou maior expressão no trabalho de historiadores que estudaram os costumes pagãos dessas nações adjacentes, revelam alguns motivos pelos quais as guerras e as divergências religiosas promoviam duros embates.

Também estaremos mais intimamente ligados com a questão da autoria dos livros bíblicos, tão contestada por muitos que não aceitam em especial a forma como se deu a inspiração para a produção dos livros. Veremos de que forma Deus, em sua multiforme sabedoria, definiu quais seriam os homens cuja natureza, história e o próprio temperamento propiciariam a criação desse Livro tão único e tão fantástico do ponto de vista humano.

A composição de cada um dos livros também será objeto de nossa apreciação, para que conheçamos com certeza e proximidade a datação da inscrição, e isso também dentro do contexto de cada um deles. É importante que tenhamos tais informações a fim de que haja também compreensão acerca do que acontecia naquela determinada ocasião da vida do autor e na região em que o mesmo habitava, bem como os problemas que enfrentava.

Falaremos também acerca da crítica textual, que neste caso, nos envolverá no ambiente dos idiomas originais, a fim de que possamos ter mais claro entendimento sobre se de fato os copistas teriam adulterado deliberadamente o texto sagrado para que a piedade fosse tida em maior conta do que aquilo que de fato deveria ter constado nos anais sagrados.

Por derradeiro, avaliaremos a forma como a transmissão dos textos sagrados podem, de alguma maneira, interferir na fidelidade textual em relação aos originais, ou seja, a forma como os copistas transcreveram os textos sagrados e os passaram adiante, para que tenhamos uma ideia mais clara sobre o que a chama crítica insiste em apontar como uma espécie de corrupção que compromete todo o conteúdo das páginas bíblicas.

Desejamos a todos os nossos alunos e leitores um aprendizado eficaz e que de fato coopere não só com a fé de cada qual, mas ainda condicione a cada irmão para que possa fazer uma defesa adequada de tudo aquilo que compõe sua fé e que se acha inserido nas páginas do Antigo Testamento.