Introdução

Ao contrário do que determina o entendimento comum entre as pessoas que não conhecem o ateísmo a fundo, sua filosofia da rejeição ou ausência da crença na existência de divindades e outros seres sobrenaturais está baseada em doutrinas filosóficas com fundamentos complexos e não somente na ideia de uma incredulidade vazia e sem argumentos, como encontramos em ateus nominais.

Para simplificar o entendimento, basta considerarmos o teísmo como contraste ao ateísmo, sendo o teísmo a ideia ou crença de que existe, de fato, um Deus infinito e pessoal, o qual criou o Universo e nele intervém de forma sobrenatural de tempos em tempos. Para os ateus, não existem divindades de quaisquer espécies, tamanhos, línguas, formas ou origens.

A etimologia do adjetivo “ateu” vem do grego clássico, cuja transliteração é atheos (sem Deus). Quando o termo foi cunhado na sociedade grega, ganhou primeiro uma conotação negativa, uma vez que foi aplicado àqueles que se pensava rejeitarem os deuses adorados pela maioria das sociedades e não somente o Deus bíblico.

Uma expansão da ideia ateísta, bem como de suas discussões, acabou por gerar o que se classificou por “pensamento livre”, uma nova ideia que trouxe em sua essência o ceticismo científico e este, por sua vez, provocou um aumento na crítica que se fazia às religiões teístas, de um modo geral.

A partir de então, o adjetivo “ateu” deixou de ser uma mancha social para simplesmente identificar as pessoas que defendiam as ideias ou, pelo menos, os princípios ateístas.

O ateísmo nasce para a história na cronologia dos homens quando, no século 18, os primeiros seguidores da doutrina de oposição a Deus foram identificados e, assim, passaram a ocupar seu espaço nas discussões que envolviam a espiritualidade de alguma forma.

No decorrer desta matéria, veremos que o ateísmo também se vale do conceito ceticista para mostrar suas razões, posto que, para os céticos, prevalece a ideia de que a razão, a percepção e outros meios, que possam ser utilizados para alcançar o conhecimento, são inadequados para este fim, caso o conhecimento seja considerado uma coisa perfeita, pois assim o conhecimento estaria simplesmente fora do alcance do homem.

Três pontos fundamentais para sustentar o ateísmo são sempre destacados em suas teses. A saber: 1) o problema do mal, 2) o argumento das revelações inconsistentes e 3) o argumento da descrença. Da mesma forma, outras três razões têm proeminência na aplicação da doutrina ateia, uma filosófica, outra social e ainda as questões históricas.

A literatura ateísta é vasta e dá condições aos estudiosos para fundamentarem ideais e valores. De certa forma, podemos dizer que, diante de tanto material literário disponível, há certa diversidade de pensamentos sobre o que seja, de fato, o ateísmo, uma vez que nem todos os ateus ao redor do mundo fundamentam suas ideias em obras específicas ou de referência consensual entre eles.

Isso acaba servindo de ferramenta a favor daqueles que defendem uma teologia, seja corânica, talmúdica ou bíblica, uma vez que estas colchas de retalhos bem trabalhadas em fundamentos e costuradas com a linha da diversidade de pensamentos, provam, por si mesmas, que não há uma linearidade disciplinar no ateísmo; um alicerce eficaz que o proteja das contestações mais razoáveis.

No Ocidente, digno de nota, talvez haja mais paradoxos acerca do ateísmo, pois sua diversidade de pensamentos e doutrinas é tão ampla que acaba criando um confronto entre os ateus irreligiosos e outros, também ateus, mas que se consideram espiritualistas.

Antes de entrarmos no texto da matéria, é importante termos em conta detalhes acerca de certas religiões que consideram a tese ateísta válida, como podemos encontrar em obras do jainismo, budismo e hinduísmo. O jainismo e algumas outras formas de budismo não defendem a crença em deuses, enquanto o hinduísmo mantém o ateísmo como um conceito válido, mas difícil de acompanhar espiritualmente.

Concluindo esta introdução, fazendo uma ressalva estatística relevante, sabemos que as escolas ateístas existentes não defendem sempre um mesmo fundamento, embora preservem um objetivo universal e, bem por isso, é quase impossível determinar o número de ateus no mundo. Todavia, uma estatística próxima nos daria a seguinte impressão: cerca de 2,3% da população mundial descreve-se como ateia, enquanto 11,9% descreve-se como não religiosa.

Daqui por diante, estudaremos a consciência e ideias daqueles que não acreditam na possibilidade de um ser superior ter tomado partido na criação e, posteriormente, nos acontecimentos terrenos, preferindo sempre atribuir ao acaso ou às leis naturais todos os fenômenos que podemos contemplar na terra.