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Escrituras

Escrituras – o maior monumento sobre a Terra

Península do Sinai. Aproximadamente 1500 a.C., um ancião solitário dentro de sua humilde cabana de peles de animais escreve em uma linguagem antiquíssima. O sol escaldante não pode esmorecer seu corpo octogenário, já acostumado com as intempéries do deserto. Ao redor da humilde habitação, uma multidão inquieta teme pelo seu destino e pelo futuro de seus filhos. À sua frente, ergue-se altaneiro e imponente o Horebe, olhado agora com ainda mais reverência e espanto.

Se outrora lhes pesava o jugo da opressão, agora é a solicitude pela vida que lhes aperta o coração. Se antes lhes doía a carne, agora lhes aflige a alma. Se antes eram meros estrangeiros em terra alheia, então são simples peregrinos tendo a esperança por destino. Nem casas fixas de tijolos cozidos, nem plantações borbulhantes de melões, alho e cebolas, nem poços nem rios, nem carne. Tudo é pedra, terra e sol. Tudo é expectativa. Tudo é indagação. O pão comido com lágrimas já ficara para trás, e o mel bebido com alegria ainda não viera. O inimigo conhecido já se fora e o oculto ainda não chegara. O passado já não era e o futuro ainda seria. Fora arrancada a velha árvore, mas a nova ainda não estava plantada.

Começam a surgir as Escrituras Sagradas

Neste ambiente inóspito e incerto, começava a ser erigido o maior monumento sobre a terra, monumento que a mente humana jamais haveria de igualar. Sem mover uma única pedra ou polir qualquer rocha, seria sólido e paulatinamente erguido em um período de 16 séculos. Neste tempo, outros monumentos se elevariam para a glória humana, para depois sucumbirem com e como a mesma, deixando nada mais que mera lembrança, sem nada imprimir, moldar ou mudar no espírito humano.

As mãos e a mente do ancião, entretanto, eram movidas por um Espírito superior, mal sabendo ele que aquele Livro, que entrava para a história, haveria de prever, guiar, alterar e definir o destino e os caminhos de  milhões de indivíduos, de nações e do mundo.

Aquele livro seria o grande paradoxo da humanidade, edificando nações e as derrubando, plantando e arrancando, exaltando e humilhando-as. Seria tão amado que por ele muitos morreriam, e tão odiado que por ele muitos outros matariam. Seria criticado e defendido, desprezado e analisado, terminantemente proibido por uns e largamente divulgado por outros. Entraria na mais humilde cabana e no mais belo palácio. Viajaria de Norte a Sul e do Oriente até o Ocidente. Seria escarnecido e louvado. Olhado com a mais dura incredulidade e com a mais pura fé.

Aquele velho, que oitenta anos antes havia sido salvo nas águas do Nilo, que havia bebido das glórias de um poderoso império e se fartado com a poeira, o sol e o céu do deserto, começava agora a escrever. Embora soubesse que do alto vinham as suas palavras, ainda era cedo demais para que ele tivesse ideia da força existente naqueles escritos (leia nosso artigo O Pentateuco). Sobre a pedra angular por ele lançada, um edifício mais sólido que os alicerces da própria terra e do Universo seria construído. Um Livro, cujo conteúdo fora concebido antes da fundação do mundo e cujas verdades continuariam após o seu fim.

Outros viriam e,  movidos pelo mesmo Espírito, seriam instrumentos na edificação deste monumento. Homens distintos e distantes uns dos outros. Na Ásia, na África, na Europa. Em palácios, em cabanas ou num templo. Possuindo a sabedoria dos reis ou a simplicidade dos pescadores, tendo a transcendência dos visionários e profetas ou a objetividade do médico, a ação dos governantes ou meditação dos sacerdotes; estes homens escreveriam. E como construtores de grandes catedrais, colocariam pedra sobre pedra. Até um boiadeiro e um general haveria entre eles. Homens de mentes variadas, muitas vezes desconhecendo o porquê de suas arrebatadoras palavras, iriam, letra a letra, palavra por palavra, levantar o inigualável edifício.

Hoje, mais de três milênios se passaram desde que o velho hebreu foi movido a escrever. A história do Livro em si é impressionante. Fantástica, porém, são suas marcas na história. Marcas feitas muitas vezes contra a vontade dos marcados, pois, mais do que palavras, este Livro trouxe determinações; determinações estas que suplantaram a vontade, os planos e os feitos de reis e de reinos, mostrando sobre a terra um poder mais forte que a espada e a força bruta, sendo mais rápido que a flecha e o arco, mais sólido que catapultas: assim é o poder da profecia divina encontrada nas Escrituras Sagradas.

Jorrando através dos lábios de pessoas simples – membros de um povo desprovido de grandeza militar ou política, vivendo mais como dominados do que como dominantes – a palavra profética era o martelo de Deus, lançando abaixo os muros de Babilônia e Nínive, arrasando Tiro e Sidon, extinguindo Moabe e Edom.

“Assim diz Yahveh” – era o grito do profeta e, com certeza, suas palavras invadiriam o ar, penetrariam o tempo e se transformariam em história. Inumeráveis vezes, a profecia se transformou em fato histórico, contra todas as probabilidades. Não uma ou outra vez, como tênue pressuposição originária da opinião humana, mas sempre, como firme determinação, nascida na mente e no coração de Deus.

Ao estudante é impossível não pasmar. Se de um lado tivéssemos as Escrituras e do outro livros de história, certamente ficaríamos impressionados. A profundidade do pensamento grego modelou o pensamento universal e a sociedade romana enraizou-se em nossa cultura. Mas a profecia hebraica fez mais do que ambos, pois é como se tivesse nos tirado dos limites geográficos e históricos, fazendo-nos ver do alto de uma montanha os caminhos da existência  humana. A profecia hebraica transforma o passado e o futuro em tempo presente, reunindo tudo em uma única perspectiva – a perspectiva divina.

Quando nos tornamos cônscios do estreitíssimo vínculo entre a profecia bíblica e a história humana, somos capazes de ver os caminhos e a mão de Deus por entre os caminhos dos homens, além de reconhecer que a nossa história é em grande parte o seu eterno desígnio.

Essa é a força, o poder e a sabedoria das Sagradas Escrituras, a eterna Palavra de Deus.

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