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Apologética

A importância da teologia na apologética

Amigo leitor do BlogSF, em reflexões passadas elucidamos aqui o que o apóstolo Paulo de fato estava afirmando ao escrever aos crentes de Corinto que “a letra mata” (2Co 3.6). Naquela ocasião, vimos como o missionário dos gentios não tinha em mente a marginalização do ensino teológico, até porque ele próprio fora um grande estudioso do Antigo Testamento (Fp 3.6). Pois bem! Desta vez, vamos tratar de um vértice de estudo ainda mais marginalizado: a apologética. Essa disciplina da teologia foi muitas vezes menosprezada, mas começou a receber maior atenção com a consciência que a igreja evangélica vem nutrindo acerca da necessidade de defender a fé cristã. Essa atenção faz todo sentido numa sociedade em que o genuíno evangelho é constantemente “apedrejado” nos vários veículos midiáticos. Não temos a intenção de ser exaustivos e recomendamos leituras das postagens anteriores para aqueles que quiserem se aprofundar no tema. Neste artigo, veremos brevemente sobre a relação entre a teologia e a apologética, exporemos cinco tipos de abordagens da apologética e falaremos sobre como esta matéria é fundamental para a preservação da sã doutrina.

Já algum tempo o renomado apologista Jan Karel Van Baalen, em sua importante obra “O caos das seitas”, nos alertou acerca de um problema que a igreja evangélica no mundo vem enfrentando. Notadamente, Van Baalen ressalta o desconhecimento das doutrinas bíblicas fundamentais por parte dos cristãos em contraposição ao empenho incansável dos adeptos das seitas no estudo metódico de suas doutrinas e também das doutrinas daqueles a quem pretendem convencer, conforme lemos no artigo “Cuidado com a Bíblia na boca do diabo”. Todo aquele que já teve a experiência de dialogar com um sectário pôde perceber que ele domina os fundamentos de sua crença bem como a doutrina dos divergentes. Raramente esse quadro é pintado de outra forma.

Confirmando os apontamentos de Van Baalen, verificamos que muitos de nossos membros se esquivam da abordagem aos adeptos de seitas por achar que não podemos receber sectários em nossos lares ou pela admitida incompetência de dialogar com eles, a fim de ganhá-los para Cristo. Paulo, entretanto, observou a importância do estudo bíblico quando recomendou: “Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes”(Tt 1.9). A expressão “fiel palavra conforme a doutrina” pode ser interpretada como um fruto gerado pelo conhecimento teológico e a expressão “convencimento aos contradizentes”, por sua vez, pode ser entendida como o evangelismo de pessoas que professam uma fé distinta do genuíno cristianismo. Será que somos hábeis em conduzir um sectário a Jesus por meio da Bíblia? Qual é a importância da teologia na apologética? Vejamos:

A relação entre a teologia e a apologética

A apologética cristã é uma disciplina da teologia e tem por finalidade defender os princípios bíblicos por ela (teologia) expressos. Assim, a apologética visa combater os desvios doutrinários identificados nas diversas disciplinas teológicas, especialmente, nas doutrinas essenciais, como a natureza divina (Pai, Filho e Espírito Santo), a encarnação, a morte e a ressurreição de Cristo, entre outras.

Observando essa relação, podemos concluir que a apologética atua em função da teologia. É porque os princípios doutrinários existem e são distorcidos que a apologética é necessária. Logo, todos os elementos da apologética dependem e convergem para a teologia. Tendo isso em mente, entendemos que a apologética será conduzida de acordo com a teologia que quer defender. Portanto, se alguém possuir como base doutrinas distorcidas, sua apologética seguirá a mesma tendência. Diante destes pressupostos, vejamos algumas categorias de apologética e como elas se relacionam com as doutrinas teológicas:

Apologética clássica

Este tipo de abordagem trabalha com o principal pressuposto teológico, isto é, a existência de Deus. É essa linha apologética que vai explorar os argumentos comprobatórios da existência divina. Os principais argumentos são:

a) Cosmológico: uma vez que cada coisa existente no universo deve ter uma causa, deve haver um Deus, que é a última causa de tudo.

b) Teleológico: existe um objetivo, um propósito para a criação do universo e do ser humano.

c) Ontológico: Deus é maior do que todos os seres concebidos porque existe na mente do homem um conhecimento básico da existência de Deus.

Os teólogos que se destacaram como apologistas clássicos foram Agostinho, Anselmo de Cantuária e Tomás de Aquino.

Apologética evidencial

Como já podemos inferir do próprio nome, esta linha apologética busca defender as doutrinas teológicas ressaltando as evidências que as envolvem, tais como a infalibilidade da Bíblia, a veracidade da divindade de Cristo, de sua ressurreição entre outras doutrinas fundamentais. Um teólogo que representa bem esta classe de apologistas em nossos dias é Josh McDowell, o qual constrói esta abordagem em seu best seller “Evidências que exigem um veredicto”.

Apologética histórica

Essa classe de apologética enfatiza as evidências históricas. Seus representantes acreditam que a existência de Deus pode ser provada com base apenas na evidência histórica, porém isso não significa que não lancem mão de outros artifícios. Geralmente, o fundamento desta abordagem são os documentos do Novo Testamento e a confiabilidade de suas testemunhas. Podemos encontrar teólogos expoentes da apologética histórica nos primórdios da igreja, como Justino Mártir e Tertuliano.

Apologética experimental

Esse tipo de apologética é geralmente apresentada por fiéis que arrogam para si experiências religiosas pessoais e, às vezes, até exclusivas. Assim sendo, alguns apologistas rejeitam este tipo de abordagem por seu caráter excessivamente místico, alegam que tais experiências são comprobatórias apenas para os que nelas creem ou delas compartilham. Em suma, a apologética experimental recorre à experiência cristã como evidência do cristianismo e relaciona-se, portanto, com a teologia do leigo, ou  seja, a teologia que não é acadêmica.

Um ponto negativo desta abordagem é o fato de que ela se apresenta de forma um tanto quanto subjetiva, ou seja, é difícil de sentenciá-la como verdade ou fraude. Um ponto positivo é a questão de que toda a nossa crença precisa de fato ser vivida, experimentada por nós, pois do contrário não passará de teoria.

Apologética pressuposicional

Essa abordagem é chamada desta forma porque parte de uma pressuposição para construir sua defesa. O pressuposicionalismo pode ser assim classificado:

a) Revelacional: todo o entendimento da verdade parte da pressuposição da revelação de Deus e da legitimidade da Bíblia em expor esta revelação.

b) Racional: a pressuposição básica gira em torno da coerência do argumento. Se o cristianismo arroga para si a posição de única verdade, então, isto implica dizer e provar que todos os demais sistemas são falsos.

c) Prático: a pressuposição aqui é a de que somente as verdades cristãs podem ser vividas.

Os teólogos que se destacaram como apologistas pressuposicionalistas foram Cornelius Van Till e John Carnell.

A teologia como um baluarte contra o erro

Como podemos confirmar, independente do tipo de apologética que esteja sendo exercido, o fato é que todas elas se relacionam com os fundamentos da teologia.

Sabemos que a grande ocorrência da apostasia em nosso meio envolve seitas pesudocristãs, ou seja, aquelas que mais se assemelham com o cristianismo. Isso se deve ao emprego distorcido dos fundamentos teológicos que são facilmente aceitos entre os crentes incautos. É como que um disfarce do cristianismo, uma maquiagem para a verdade cristã, tal como lemos no artigo “A identificação da verdade em meio à mentira”.

Quando o crente se encontrar desabilitado para defender sua fé, ele fatalmente estará propenso ao engano. Disse Charles Hodge, “que ninguém creia que o erro doutrinário seja um mal de pouca importância. Nenhum caminho para a perdição jamais se encheu de tanta gente como o da falsa doutrina”. A tragédia espiritual de inúmeros crentes é que não atentam para isso!

O apologista Walter Martin há muito também alertou que é conhecendo a verdadeira nota que conseguimos identificar a falsa. É possível ser um teólogo e não ser apologista, embora isso não seja plausível, entretanto, é impossível ser um apologista sem ser um teólogo!

O conhecimento das doutrinas fundamentais da Bíblia é o maior baluarte contra o erro. Todo o engodo está na deturpação das Escrituras, na distorção da doutrina. Uma teologia voltada para a apologia certamente evitaria tantos modismos que têm trazido escândalo para os meios evangélicos em nosso país. Veja o que o apóstolo Paulo orientou a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem” (1Tm 4.16). A Tito ele declarou: “Em tudo, te dá por exemplo de boas obras; na doutrina, mostra incorrupção, gravidade, sinceridade” (Tt 2.7).

O nosso desejo e oração é para que assim como Paulo, os líderes de nossas igrejas orientem e conscientizem seus colaboradores acerca da importância da teologia para a defesa de seus membros. Somente assim, com o auxílio do Espírito Santo, conseguiremos manter singelas as verdades eternas da Palavra de Deus.

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